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Minha recente experiência como paciente no Japão

Updated: Feb 12

Moro no Japão há mais de 15 anos e nunca me vi em uma situação assim. Só uma introdução da minha experiência até antes desta última: sempre frequentei hospitais e clínicas para fazer check-up (kenkou shindan 健康診断), ginecologista ou para pegar remédio para alergia, dores, tosses etc. Já tive experiências com emergência e já andei até de ambulância com os meus filhos.


Vou contar como tudo começou:

Dia 11 de janeiro, comecei a sentir dores debaixo do braço e não conseguia levantar o braço direito. No dia anterior tive aula de pilates e trabalhamos somente braços e ombros, então pensei que fosse apenas uma dor muscular.


Dia 19 de janeiro, como a dor não melhorava mesmo depois de 1 semana, decidi ir a uma clínica com médico ortopedista (em casos de dores, não adianta muito ir em médico geral, eles só dão remédio para dores e não olham nada). Tirei raio X dos dois braços e tudo normal. Em vez de fazer um exame de ultrassonografia, o médico me passou remédio para dor e remédio para estômago. :-/


Dia 21 de janeiro, nesse dia fomos tomar banho de termas - não recomendado para casos de inflamação muscular. Saí de lá sentindo muito frio e sem muita fome. Acho que depois dessa dia, comecei a sentir muito frio ao entardecer e vi que a minha temperatura estava mais alta do que o normal, chegando até 37.1, mas não era febre.


Durante a semana do dia 22 de janeiro, durante o dia estava bem, como estava tomando remédio para dor de manhã e depois da janta, não sentia tanta dor no braço. Ficava incomodada de ter que tomar remédio para o estômago também. Mas lá pelas 15h, 16h eu já começava a sentir uma moleza e muito frio.


Dia 25 de janeiro, por indicação do marido, decidi ir a um massagista/acupunturista perto de casa e ele tem um aparelho de ultrassom, mas que não adianta muito se ele não sabe ver as imagens. Ele foi super atencioso, examinou com o ultrassom por um bom tempo e fez massagens que eu até chorei de tanta dor. Ele falou que eu tinha uma tensão muscular (nikubanare 肉離れ).


27 de janeiro, percebi que tinha uma bolinha dura na axila e era quente. Não tinha nada quando fui na consulta do dia 19. Teve uma vez que medi a temperatura debaixo do braço direito e deu 40°, enquanto o braço esquerdo deu 36.2°. Acho que era isso que me deixava indisposta e com muito frio à noite.


29 de janeiro, marquei uma consulta com um outro ortopedista (seikeigueka 整形外科), mas meu motivo inicial era pegar um certificado médico (shindansho 診断書) para entregar no Pilates. O médico me examinou e viu a bolinha na axila e já me encaminhou para um hospital grande. Com a carta de recomendação em mãos (shoukaijou 紹介状), fui para o Takanawa Hospital. O médico ortopedista viu e ligou para o médico especializado em Cirurgia Plástica (keiseigueka 形成外科) se poderia me atender. Ele viu a minha situação, que eu sentia muita dor e eu só conseguia levantar o braço até a altura do meu ombro. Fiz um exame de sangue, que diagnosticou que eu estava com um nível muito alto de glóbulos brancos, o que significa inflamação. Tomei antibiótico no soro (tenteki 点滴) e o médico até fez um corte na axila para ver se saia pus, mas nada. Nem precisei levar pontos. Nesse dia, ele disse que eu estava com problema nos linfonodos (rinpasetsuリンパ節). O médico prescreveu mais remédio para dores e remédio para o estômago e antibióticos para tomar 3x ao dia. Depois disso, não tive mais frio ou moleza.


30 de janeiro, voltei ao hospital cedinho antes dos atendimentos só para pegar o certificado médico. No Takanawa Hospital, você precisa dar entrada com o pedido na recepção e eu não sabia disso. Eu precisava do documento urgente antes de terminar o mês de janeiro.


31 de janeiro, fui ao hospital de novo na tentativa de conseguir fazer um ultrassom (tchoonpa 超音波 ou eco エコー). Estava achando que as dores estavam se espalhando para abaixo do ombro. Conversei bastante com as mulheres que ficam no balcão de informações e descobri que lá tem intérprete de inglês/chinês e outras coisas do sistema médico japonês. Não consegui fazer o ultrassom, porque tanto o médico que me atende quanto o médico da cirurgia (gueka 外科), não atendem às quartas.


1 de fevereiro, já tinha consulta marcada e comentei com o médico que sentia que a dor estava se espalhando. Aí ele decidiu fazer uma tomografia com contraste (zouei CT 造影CT). Aí ele viu que tinha muito pus debaixo do meu braço - ele não falou o nome do que seria, mas acho que é abscesso. Então a sugestão do médico foi, ficar internada por 3 dias para tomar antibiótico direto na veia para agilizar o processo.


2 à 5 de fevereiro, fiquei internada por 3 dias tomando antibiótico na veia 3x ao dia. Durante a internação (ser internada: nyuuin 入院; receber alta: taiin 退院), só tomei remédio para dor 1x. Uma das minhas preocupações era estar tomando remédio para dor e estômago por mais de 2 semanas e isso me fez decidir pela internação. Senti que estava formando outro caroço debaixo do braço e uma dor ao esticar o braço todo. O médico falou que era normal sentir dor. O custo da internação foi 63.350 ienes. Sem somar o custo do aluguel do pijama e do rack com tv/geladeira/wifi - ambos não obrigatórios. Recomendação médica: continuar tomando o antibiótico e fazer exercícios forçando o braço para cima, senão eu poderia ficar sem conseguir mais levantar o braço. 0_0

refeição com carne de porco, salada de espinafre, repolho e tomate, arroz e picles.
Refeições no hospital japonês
Almoço de um hospital em Tóquio

Café da manhã em um hospital no Japão



8 de fevereiro, retorno pós internação. Paramos com a medicação para ver como o corpo vai reagir. Antes da internação até esse dia, eu fiquei perguntando se não iriam tentar tirar o pus. Acho que o médico está preocupado com o meu braço e não quer fazer um novo corte. Antes de internar não conseguia levantar muito e agora estou conseguindo levantar muito mais. Foi melhor ficar internada mesmo, um dos caroços desapareceu e o outro parece estar diminuindo.


A novela ainda continua. Na próxima consulta, o médico comentou de fazermos ultrassom. FINALMENTE!!!


Algumas conclusões minhas, posso estar errada:

  • Isso de ficar pulando de um médico para outro para tentar resolver parece ser bem normal. Tanto que no formulário médico da primeira consulta perguntam se já foi em outras clínicas/hospitais para tratar o problema em questão.

  • Se tiver dores musculares, uma amiga recomendou procurar algum médico/ortopedista especializado em esportes, porque do contrário vão só tirar raio X e passar remédio para dor e estômago. Foi o que aconteceu comigo.

  • Nunca ouvi falar sobre abscesso, esse acúmulo de pus e infecção. Depois que comentei sobre isso, muitos amigos e seguidoras vieram falar sobre casos que aconteceram na família. Nunca iria imaginar que dor e febre poderia dar nisso mesmo sem nada aparente por fora, então é bom saber.

  • Acho que o Brasil é mais de intervenção médica, enquanto o Japão é mais de esperar o corpo reagir e por isso o tratamento pode levar mais tempo aqui do que no Brasil. São diferenças culturais.

  • É verdade que no Japão, os médicos só fazem exames que eles julgam realmente necessários. Então, se um médico achar que não precisa de acordo com os sintomas, teria que ir em outro até achar um que faça.

  • Você pode ir direto se consultar em um hospital grande, mas muitos cobram uma taxa. O Takanawa Hospital cobra 3.300 ienes, enquanto muitos outros cobram 5.000 ienes. Se você for em uma clínica e receber uma carta de recomendação para ir a um hospital grande, não precisará pagar essa taxa. Acho que isso é para evitar pessoas de irem a hospitais grandes para qualquer caso.

  • Muitos médicos no Japão são bem indiferentes ao que o paciente está sentindo, às vezes nem olham para a sua cara e nem te examinam, mas não são todos. Tendo sorte, você consegue encontrar médicos bons e mais sensíveis.


Vou atualizando vocês e se tiverem alguma dúvida ou alguma experiência para compartilhar, deixe nos comentários.





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